Nesta quaresma, que se tornou uma quarentena mundial, diante da real ameaça do corona vírus (Covid-19), nos encontramos impedidos de realizar tarefas corriqueiras do nosso cotidiano como ir ao trabalho, à escola, ao supermercado e à igreja. Estamos impedidos de participar fisicamente das nossas celebrações e cultos. Contudo, vemos que não faltam esforços, seja dos mais variados meios de comunicação civil para entreter a sociedade neste momento em que nos é pedido para permanecermos em casa, como também nos meios de comunicação religiosa, Missas, Cultos, terços, novenas, adorações, orações várias, tudo para que nos sintamos conectados entre nós e com Deus. Tudo isso é louvável, verdadeiro, belo e bom. Precisamos como homens e mulheres de fé que somos rezar, dobrar nossos joelhos e corações diante daquele que mantém tudo na Vida. Imploramos a Ele a sua misericórdia, sobretudo, por aqueles que mais sofrem, por tantas famílias que a causa da expansão do vírus perderam seus entes queridos, e algumas dessas famílias sem nem mesmo ter a oportunidade de velar e enterrar os corpos daqueles que amam.
Contudo, me parece pedagógico, o sentir, não somente o medo, que tem a função de nos preservar diante de uma ameaça, mas o sentir a realidade daquilo que neste momento nos falta, seja a liberdade do ir e vir no mundo civil, seja no campo da fé a impossibilidade de celebrar fisicamente unido à comunidade de fé, de comungar da Eucaristia, de abraçar e tocar os irmãos. Repito, é necessário rezar e muito, mas temos que tomar cuidado para que neste tempo propício da quaresma, a chuva de orações, mais variadas que nos tem sido ofertadas pelos meios de comunicação não nos hipnotize, nos impeça de sentir com os outros, e de modo particular, não nos impeça de sentir-nos a nós mesmos.
Este é e, pode ser para todos nós um tempo rico de conhecimento de si e aprofundamento da nossa relação com Deus. Tempo de aprendermos a estar conosco diante da presença de Deus no sacrário inviolável do nosso coração e ali descobrir nossas potencialidades, reconhecer nossas fragilidades deixando com que a graça de Deus nos recrie. Tempo de pensarmos no valor da vida, da nossa e a dos outros. Tudo isso pode nos ajudar a valorizar nossa relação com o outro, com Deus e com a nossa prática religiosa. Desacelerar não é para nós parar de produzir, desacelerar pode ser o necessário para uma produção muito mais fecunda, porque conscientes de quem somos e em quem confiamos. Nosso Deus é Pai, e nossa vida está sempre em suas mãos. É necessário cuidar para que o ativismo que geralmente, impera no nosso dia-a-dia não impere também nestes dias de isolamento, mascarado por “atividades” que devem nos ajudar, nos entreter, nos possibilitar a comunhão com Deus e com os outros, mas que não deve nos isolar de nós mesmos, porque silêncio também é oração e presença.
Pe. Mateus Lopes
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