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O Enigma das Rosáceas nas Catedrais Góticas: simbologia e espiritualidade



  Elemento tipicamente presente nas fachadas e transeptos das grandes Catedrais Góticas, as rosáceas mais que meros componentes decorativos, são uma verdadeira catequese simbólico-espiritual que nos inserem no mistério da Encarnação de Cristo. Ele assumindo a nossa natureza humana divinizou o Cosmos e a matéria de toda a Criação, mas sobretudo divinizou e santificou nossa humanidade, e nos deu a graça de nos tornarmos n’Ele verdadeiros filhos de Deus Pai. Este é o mistério presente nas rosáceas que encontramos nas fachadas das antigas catedrais e igrejas neogóticas espalhadas pelo mundo.

   O estilo Gótico e sua belíssima arquitetura sucedeu o breve período românico, mas não perdeu a dimensão simbólico-teológica do período anterior, antes procurou manifestá-la com maior riqueza e consciência de seu próprio espaço[1]. Esta realidade, a percebemos através da utilização das imagens. No período românico as imagens, com formas essenciais e estáticas eram encontradas nos capitéis, colunas e tímpanos das igrejas, quase sempre representando Cristo em Majestade, o Juízo final e a Crucificação, um modo de catequizar e doutrinar os fiéis (Bíblia dos pobres), através de uma apresentação que suscitava o temor da condenação e, portanto, a fuga do mundo vil, império do pecado[2]. Já no período gótico, as imagens migram dos capitéis e ombreiras e, passam a ocupar vários espaços, não mais suscitando o temor do Dia do Juízo, mas enfatizam a proximidade de Deus para com o seu povo. De estáticas que eram no período românico, ganham uma maior naturalidade e expressões realistas que se expressam através do olhar e gestos, comunicando ternura e serenidade[3].

Colocadas no exterior das igrejas de modo simpático pela sua estrutura e forma se tornam convidativas, convidando aqueles que a entrarem no templo e encontrarem-se com aquele que da sentido pleno e harmonia à vida e a história do mundo e dos homens.
 É neste mesmo sentido, que se apresentam a nós as enigmáticas rosáceas das fachadas das Catedrais e igrejas góticas, cheias de simbolismos teológicos-espirituais. Essas antes mesmos de entramos no edifício religioso, nos inserem no grande mistério da fé cristã: Deus que se fez homem, para elevar os homens à dignidade de filhos de Deus.
  Inseridas no centro de um quadrado que simboliza o limite e, portanto, a nossa realidade humana frágil e limitada, a rosácea por sua forma circular é por sua vez o símbolo de Deus, da eternidade. Em seu conjunto, ela nos recorda que a experiência que fazemos enquanto Igreja Corpo de Cristo, convocada para a Santa Liturgia, é aquela da Jerusalém celeste, Cidade santa que desce de junto de Deus, pronta como uma esposa que se enfeitou para o seu marido (Cf. Ap 21,2). Ela simboliza, portanto, a descida de Deus para junto de seu povo, nos diz que aquele que desceu do céu e se incarnou, é realmente, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Deus assumiu o que era limitado para que o homem tivesse acesso ao ilimitado, assumiu o tempo e o espaço para dar ao homem a eternidade, assumiu a carne do homem para dar a ele a sua imortalidade.
   Assim, a divina humanidade de Cristo, nos recorda que, todo o Cosmo, toda a Criação foram santificados e se tornaram meios de comunhão com Deus, porque tudo ganha novo sentido com a Encarnação do Verbo de Deus feito carne, matéria. 





  Existe uma variedade de rosáceas com vários significados: As de 7 pétalas simbolizando Cristo e os 7 sacramentos, as 8 pétalas simbolizando a Nova Criação feita por Cristo, Novo Adão, entre outras, mas geralmente encontramos aquelas com doze pétalas. O número doze nos recorda da Jerusalém Celeste, aquela realidade escatológica para qual a Igreja enquanto Povo de Deus peregrino neste mundo está a caminho, em direção ao Reino definitivo.

  Geralmente, estas doze pétalas são circundadas de 24 raios recordando-nos dos 24 anciãos que estão diante do Cordeiro como nos relata o livro do Apocalipse capitulo 4, versículos 4.10. Estes nos recordam uma vez mais que quando entramos na Igreja, fazemos uma experiência de passagem; uma viagem diria Alexander Schmemann[4], deste mundo ao Reino através da Santa Liturgia, a Santa Missa. 
     Depois disso, em um terceiro circulo, encontramos uma infinidade de raios recordando a multidão dos fiéis (Ap 7, 1-17), todos nós, ainda que atravessando o vale deste mundo, vivemos da Vida e Luz do Cordeiro que está sentado no trono, porque batizados. Posto isso, é necessário dizer que se a rosácea está inserida em um quadrado, este pode estar ladeado pela figura dos quatro seres viventes, a dizer: um leão, um touro, um homem e uma águia, como nos relata o livro do Apocalipse no capitulo quarto. 
     Tudo isso, toda esta riqueza simbólica, teológica-espiritual colocada na fachada de uma igreja, por aqueles que nos antecederam, nos testemunha que na nossa experiência de fé cristã, nós não vamos a Deus sozinhos, como indivíduos, mas em comunhão, com os irmãos, filhos do único e mesmo Pai.
    A Deus vamos como corpo eclesial que somos, porque pertencentes ao único e mesmo corpo de Cristo. Nesta viagem, embora sejamos muitos, Ele nos nutre com o seu Corpo (1Cor 10,17) e único Pão da Vida para que testemunhando a unidade sejamos no mundo reflexos da Luz que nunca se apaga. De fato, a Jerusalém celeste “não precisa do sol ou da lua para a iluminar, pois a glória de Deus a ilumina, e sua lâmpada é o Cordeiro (Ap 21, 23)”.

Pe. Mateus Lopes




[2]Cf. "Western sculpture: Romanesque". In: Encyclopædia Britannica Online, 2009.

[3]Cf. Gardner, Helen; Kleiner, Fred S. & Mamiya, Christin J. Gardner's art through the ages: the Western perspective, Volume 1. Cengage Learning, 2005, pp. 361-368.

[4]Cf. Schmemann. A, Per la vita del mondo. Il mondo come sacramento.

Comentários

  1. Que lindo saber de toda essa simbologia!

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  2. Que Cristo ni que niño muerto. Es obra de los Tártaros. Es tan evidente este tipo de arquitectura por todo el mundo, que para ocultarlo la masonería recurrió al ocultismo y simbolismo, cambiando la estetica de estas construcciones que a dia de hoy ya son dificiles de lograr e incomparables a catedrales e iglesias actuales.

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